Sobre ética e educação!

Cada pessoa tem seu tempo para aprender a como lidar com o mundo. Ultimamente, estamos nos preocupando com dois mundos: o virtual e o atual.

É preciso tempo para se adaptar às mudanças de realidade e identidade que ocorrem, quando virtualizamos nossas relações e interações.

Sendo assim, por favor, respeite o tempo das pessoas. Muita coisa mudou, assim como muitos planos e expectativas também. As pessoas estão vivendo seu luto pelo que foi projetado ao futuro, e elas tem esse direito.

Precisamos tomar cuidado com nossas reações às questões de conexão e acesso a internet. Não se culpe caso você seja professor(a) e sua conexão venha a cair durante a aula. Não se culpe se você é estudante, e sua conexão venha a cair durante a apresentação de trabalho. E não culpe alguém caso isso ocorra com a pessoa. Precisamos ser compassivos nesse contexto. Nós não podemos controlar a estabilidade das plataformas ou das redes de conexão.

Nós sabemos da existência desses problemas de conexão e que ainda não temos "maestria" no uso das plataformas de aprendizagem virtual, assim como sabemos que algumas pessoas não estão bem. Então, precisamos ser tolerantes quando alguém desaparecer. Nessas horas, nós não sabemos como as pessoas realmente estão (isso é uma parte dos problemas da virtualidade). Por isso, evite cobrar a presença de alguém antes de procurar saber se essa pessoa está bem. E caso a ausência dessa pessoa te cause algum problema ou necessidade, ofereça ajudar para articular uma solução.

E não critiquem a interação. Nesse momento, censurar os fenômenos interativos durante os processos de aprendizagem é também limitar o aprendizado. A interação é essencial para a educação. Assim como os debates e até mesmo relatos pessoais ou desabafos. Nós não estamos nos abraçando e muitos não estão se vendo. Censurar a interação, seja ela para um debate crítico ou um qualquer outra questão, pode dificultar ainda mais nossa relação com o ensino e o aprendizado virtual. Interação garante o sentimento de presença. Ao interagir de outras maneiras que não seja apenas ouvindo e digitando, podemos sentir que há alguém atrás da tela. Sentir a aprendizagem é melhor que apenas testemunhar.

"A liberdade de cátedra ou liberdade acadêmica é um princípio que assegura a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. Tem como finalidade a garantia do pluralismo de idéias e concepções no ensino, especialmente o universitário, bem como a autonomia didático-científica." Você sabia que durante a ditadura militar, diversas(os) docentes tiveram sua cátedra cassada?

Na mencionada conjuntura, a censura, o autoritarismo e a polarização, silenciavam nosso país com o medo e a força bruta. Diversas(os) professoras(es) sofreram perseguição política, passaram por exílio, perderam seu direito a lecionar, foram silenciados dentro de suas salas de aula pelos militares, sofreram tortura e ainda, passaram pela morte nas mãos de quem não sabe cuidar da vida. Muitas vezes, tais perseguições poderiam ocorrer pela menção de uma simples referência bibliográfica.

Estamos vivenciando contextos políticos e sociais altamente delicados, de extrema complexidade e polarização. Por favor, tenham cuidado. Respeitem a integridade de quem te leciona. Não publiquem suas aulas em redes sociais e outras vias. Para além disso, por favor, jamais cometam a covardia de publicar quaisquer frases ou trechos de suas aulas fora de contexto. Não cometam a covardia de vir a expor quem está passando por uma situação tão delicada, que é lecionar em um momento em que as pessoas esqueceram de querer aprender com a própria história. Não expor professores nesse momento, é também proteger a cátedra da docência.

Proteger a cátedra da docência é proteger a educação emancipadora. É honrar Paulo Freire. É louvar e praticar a psicologia.

E por favor, respeitem os esforços de quem nos leciona. Preparar os conteúdos de nossas aulas não está sendo fácil. Respeitem os direitos autorais dos conteúdos de quem está tentando fazer seu melhor e por isso vem aumentando a própria jornada de trabalho diário. Nossas(os) professoras(es) estão se desdobrando para que os conteúdos de suas disciplinas cheguem até nós de maneira que possamos aprender no contexto tão difícil que estamos vivenciando.

Isso não é só para garantir a segurança de docentes. É para a segurança da educação.